Depois do massacre na escola do Rio de Janeiro comecei a pensar sobre a profissão que daqui a dois anos exercerei de verdade.
Dizem os estudiosos, os professores e experts no quesito “jornalismo” ou “comunicação” que o jornalista ou o comunicador, como queiram, não deve se envolver com a notícia.
Até aí tudo bem... Aprendemos na Faculdade um modelo de Jornalismo, e levamos adiante até os dias de hoje. Dizem também, que devemos levar a realidade ao público, fazer com que os leitores ou espectadores sintam a notícia, que devemos escolher entre a razão e ver que a notícia não é só o relatar de um fato, mas que ela também é um produto a ser vendido. Mas que mesmo levando a “realidade”, mesmo usando a banalidade e que não podemos nos envolver ou interferir no ambiente noticiado.
O problema é que quem quer ser jornalista mesmo, arregaçar as mangas e trabalhar, ao fazer uma notícia, tenta veicular o conteúdo com maestria, não consegue desvincular todo o seu emocional.
Não é fácil você entrevistar mães chorando pela perda de um filho e ter que retratar aquilo para milhões de pessoas. Devo confessar que o motivo desse texto tem a ver com algo que me deixou um pouco estranha hoje.
Estava no ônibus indo para minha casa depois de um dia maravilhoso, e lendo um livro comecei a analisar o burburinho que se formava.
Era um acidente. Comecei a escutar atenciosamente cada fato, cada descrição, a expressão das pessoas, o trânsito completamente parado na BR e comecei a questionar as pessoas sobre o tal acidente do dia.
Um motoqueiro cortou a frente de um caminhão que se desgovernou, caiu sobre uma tubulação de água que abastece quase toda Grande Florianópolis. O homem que dirigia o caminhão faleceu afogado devido à pressão da água vinda do tubo.
“Digeri” a notícia como um estudante de jornalismo faria, agi com total “frieza” apesar de saber que o fato não deve ser levado a esse ponto. Comecei a pensar em como poderia construir uma notícia e aquilo foi tomando conta de minha cabeça até que minha avó liga para meu celular.
O trânsito estava completamente parado, e ela começou a perguntar se eu estava muito longe de casa. Eu respondi que sim e então ela disse que era devido ao acidente estrondoso que teve. Algo que eu já sabia, mas ela disse uma informação a mais, quem estava no volante e que havia falecido. Um amigo da família, pai de uma grande amiga minha.
Nesse momento minha veia jornalística, a notícia que estava construída em minha mente se desmanchou, um sentimento de dor e angústia tomou meu corpo de uma forma que eu fiquei paralisada, sem pensar, em entender, apenas ali, sentada ouvindo.
Não foi fácil ver a notícia na internet, na TV, porque eu tenho vínculos com a notícia, não foi fácil analisar o jornalista ao passar a informação, sendo que eu não estava prestando atenção nisso.
O jornalismo acaba sendo uma profissão difícil quando temos algum tipo de vínculo com o fato, seja esse vínculo direta ou indiretamente.
E o que me deixou mais intrigada foi o que meu professor disse na noite de ontem.
“Será que não está na hora de fazer um Jornalismo diferente?”
Talvez seja a hora de mudarmos nossos parâmetros e percebermos que um jornalista não é um computador ou uma máquina que sintetiza. Somos comunicadores com carne, osso, coração e seres emocionais e racionais. Será que não está na hora de abandonar um pouco as fórmulas ensinadas na Faculdade? Afinal, que tipo de comunicadores estamos formando?

Talvez eu não sirva para ser jornalista, ou talvez, eu só tenha medo de me tornar ainda mais gélida com o tempo devido a minha profissão.


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